Está confirmado o que se temia. Um candidato
manifestamente corrupto acaba de abraçar o poder autárquico na província de Tete,
mais concretamente no Município de Moatize. Carlos Portimão candidato da
Frelimo a edil de Moatize levou a melhor diante do seu concorrente directo (8910
vs 3024) ou seja (74.66% de votos contra 25.34%), mesmo depois da sua infrutífera
mas flagrada tentativa de subornar uma magistrada do Ministério Público. Nada
poderia ser mais asqueroso, na divulgação dos resultados das quartas eleições
municipais.
A verdade é que enquanto não se provar com
evidências claras que naquele Município houve alguma fraude que levou Portimão
ao poder, então o povo na sua mais legítima liberdade de escolha é que o elegeu
para dirigir os destinos da autarquia de uma das províncias mas cobiçadas de
Moçambique.
Portimão foi flagrado a tentar subornar uma magistrada, foi detido, julgado e condenado. Tudo no mesmo dia e retornou à liberdade em menos de 24 horas. Este é, de resto, um caso insólito, num país em que as deficiências paralíticas da Administração
da Justiça permitem que os cidadãos aguardem meses a fio a espera do seu
julgamento.
Depois de ter falhado o plano de abafar o caso, o que resultou na mediatização quase generaliza do mesmo (só os órgão públicos de comunicação é que não falaram do assunto), a
Frelimo saiu em protecção do seu candidato e tentou distorcer os factos. Para a
surpresa de algumas pessoas, a maior força política de Moçambique, no poder
desde 1975, ainda declarou seu incondicional apoio ao corrupto candidato.
A manutenção de Carlos Portimão como candidato à
edil pelo batuque e maçaroca, mesmo depois do seu envolvimento em crimes de
evidentemente flagradas, foi o sepultar de toda a farsa por detrás da qual a
Frelimo se esconde quando fala de combate a corrupção e enriquecimento ilícito,
nepotismo, entre outros males de que enferma o país. Na verdade, com a sua
atitude a Frelimo assumiu publicamente o que de mais vil e repugnante existe na
sua essência. A corrupção e ambição desmedida pelo poder.
Em poucos dias, Portimão vai assumir o poder. Vai
dirigir o Município que se encontra na “terra prometida”, Tete. Mas isso não é
problema dele, mas sim dos que o elegeram. E mais do que estes, é problema da
sociedade moçambicana que ainda mantém apático diante de situações de clara
agressão a moral, respeito e boa governação. Neste momento, apetece dizer que o
que no dia das eleições ouvi de muitos amigos e desconhecidos: Um povo que
elege corruptos não é vítima. É cúmplice.
Assumindo hipoteticamente que em Moatize, a
Frelimo não teve a baixeza de orquestrar uma fraude eleitoral tal como fez
noutras autarquias em que isso foi denunciado e provado, então devemos reconhecer
a população como cúmplice de Portimão. A questão é e nós os outros o que
faremos com esta situação?