sexta-feira, 16 de maio de 2014

A inocência que nos levará à cova

Quando a 31 de Outubro de 2013 o povo moçambicano saiu à rua, numa marcha pacífica, para dizer de forma uníssona BASTA aos raptos, sequestros e todo tipo de criminalidade que assola o país e igualmente exigir a paz aos beligerantes [Governo e partido Renamo] que estavam - e infelizmente continuam - a matar inocentes numa guerra não declarada, pessoas com "visão futurística" auguraram que aquela era a uma "demonstração inequívoca" de que dali para diante seria "impossível governar sem ter em conta a vontade popular".

Efectivamente, as marchas que se seguiram àquela demonstram que a sociedade moçambicana, pelo menos a que reside nos grandes centros urbanos, está a acordar para vida. É só recordar que num passado recente, as organizações da sociedade civil que actuam no país, desfilaram em direcção a Assembleia da República para exigir a retirada na proposta de Código Penal de artigos que constituíam um insulto à dignidade da mulher e demonstravam a putrefação moral dos legisladores. A marcha teve sucesso e os dispositivos foram retiradas. 

Hoje, mais uma vez, homens e mulheres, saíram novamente à rua e exigiram a não promulgação das leis que estabelecem regalias milionárias para os deputados e Chefes do Estado, num país onde a maioria vive numa pobreza extrema e degradante. Mas apenas foram menos de mil (1.000) pessoas estivaram na marcha. Na verdade fala-se de cerca de 500 pessoas. Moçambique tem mais de 22 milhões de habitantes. A pergunta que fica é: onde estavão as restantes vítimas da golpada de mestre dada pelos governantes?  

A razão que levou a realização desta marcha é em termos de abrangência mais importante que a outras. A primeira era principalmente contra os raptos - que na altura parecia terem como alvo um determinado grupo social -, depois veio a da "lavagem da imagem do Presidente da República" totalmente degradada devido a má governação, oficialmente organizada pela Frelimo e a outra era contra a proposta de revisão do Código Penal que discriminava as mulheres e raparigas. 

Mas contrariamente aos outros problemas, o pagamento de regalias milionárias aos Chefes de Estado moçambicanos - em exercício e após cessar funções - e aos deputados afecta directamente o bolso de todos os moçambicanos através do pagamento de imposto. E quando se esperava que a participação fosse massiva, as pessoas preferiram acordar nesta sexta-feira [16 de Maio de 2014] e ir aos seus afazeres como se o problema não tivesse algo que ver com suas vidas.

Na verdade, a postura adoptada pelos deputados da Assembleia da República de  aprovarem e de forma consensual - algo diga-se anormal no nosso Parlamento - as suas regalias e dos Chefes de Estado revela um estado putredinoso da moral dos chamados mandatários do povo. Estes mostraram que quando é para discutirem os seus benefícios a moralidade e ética pública são postas de lado de fora do Parlamento e as suas diferença políticas são esquecidas. Afinal são todos farinhas de mesmo saco.

Mas pior do que estes, a culpa desta situação repousa sobre os ombros de quem preferiu acobardar-se no desconforto da pobreza e afogar suas mágoas nos insultos quando é apertado no "chapa cem" ou quando dentro de um "My Love" põe a sua viad por um triz, quando podia ter saído à rua para pelo menos mostrar sua indignação perante a grande roubalheira legalizada que são as duas leis. A verdade é que o povo moçambicano continua muito inocente e se a outra primeira marcha foi apelidada de marcha de esperança, esta veio mostrar que a esperança esta a desvanecer. Por isso, merece ser rotulada da marcha de desesperança. É que a nossa inocência nos levará à cova.

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