FOI
ABSURDO E IRRESPONSÁVEL o discurso do deputado da Renamo,
principal partido da oposição em Moçambique, que em pleno debate na Assembleia
da República, instigou o Governo a disponibilizar uma verba à população para a
compra de instrumento de massacre aos malfeitores.
José Samo Gudo argumentou que “dada a incapacidade demonstrada pela Polícia em prevenir o crime, o Governo deve alocar uma verba para as populações (...) puderem comprar catanas, machados, enxadas, apitos” de modo a fazerem face aos gatunos e pagar “salários para os escalonados nas rondas nocturnas.”
José Samo Gudo argumentou que “dada a incapacidade demonstrada pela Polícia em prevenir o crime, o Governo deve alocar uma verba para as populações (...) puderem comprar catanas, machados, enxadas, apitos” de modo a fazerem face aos gatunos e pagar “salários para os escalonados nas rondas nocturnas.”
Em outras palavras, o que o
parlamentar pretende, perante o avalanche de criminalidade que assola a capital
moçambicana, é que a população opte por fazer ela própria a sua justiça, linchando
os malfeitores. E isso vindo de um deputado revela uma irresponsabilidade e,
até certo ponto, imaturidade de um partido que se intitula pai da democracia em
Moçambique e legítimo representante do povo.
Existem algumas verdades no discurso
de Samo Gudo. A primeira é que realmente existem bairros que estão a viver um
tremendo terror, causado pelos meliantes que adoptaram uma nova forma de actuação:
invadir as casas violar sexualmente as vítimas e engoma-las com ferro (esta última
ainda sem testemunha) e cometer todo tipo de atrocidades desumanas contra
cidadãos, muitas vezes indefesos. Tudo com o propósito único de se beneficiar
de bens alheios.
É também uma verdade irrefutável que
a Polícia está a fracassar no seu dever de proteger os cidadãos e combater o
crime. Infelizmente, esta segunda verdade não constitui novidade para nenhum
cidadão genuinamente moçambicano.
A terceira verdade é que a Parlamento
devia, sim, se pronunciar perante este cenário desolador e de insegurança
resultante do abandono da população por parte de quem tem o dever de a proteger,
afinal pagamos impostos para que nos seja garantida a segurança e não sermos
nós a fazer o trabalho da polícia na caça aos gatunos.
Mas daí um deputado propor que a
população faça justiça pelas próprias mãos, tal como ficou explícito no
discurso de Samo Gudo, a situação ganha contornos de “politiquice baixa” em
tempos de crise. Um discurso desarticulado de qualquer interesse pelo bem estar
das pessoas e construção de um Estado de direito. Para além de que isso cheira a incitação à
violência, numa altura em a população encontra-se totalmente agastada com a
criminalidade.
Samo Gudo, certamente, quando
interveio na Assembleia da República naquela manhã preferiu ignorar o facto de (ou se calhar nem sabe) que em Moçambique
“a ninguém é licito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o
próprio direito” a não ser em legítima
defesa; estado de necessidade e algumas outras excepções.
Aliás, basta recordar que recentemente
um artista plástico, Alexandria, confundido com os malfeitores acabou
assassinado pela população na capital moçambicana. este episódio é suficiente
para clarificar a anarquias e a morte de inocentes que pode resultar da
proposta de Samo Gudo.
FRAGRANTE foi também a posição dos midia locais perante os pronunciamentos
do deputado. Nenhum meio de comunicação social deu atenção devida à posição deste,
uma demonstração de que estamos perante uma midia
fantoche que serve apenas como caixa de ressonância. Mas esse é um outro
assunto que em tempo devido merecerá uma atenção especial. Contudo, que fique
claro ao Samo Gudo: todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança
pessoal e isso nenhum deputado deve ir contra.
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