Laboratório
da democracia
EM MOÇAMBIQUE, tal
como sucede na maioria dos países da África subsahariana, a alternância do
sistema político ou de Governo não se tem verificado desde que o país ficou independente,
embora se realizem eleições gerais com regularidade.
Paradoxalmente, ao nível
dos governos municipais o cenário é relativamente diferente. É que as eleições
autárquicas, apesar de parecerem de ‘segunda ordem’, uma vez que não ocupam muita
atenção por parte, tanto dos políticos, bem como dos cidadãos, têm sido de
facto nelas onde tem havido alguma alternância política na governação.
Facto meramente
ilustrativo é que a Renamo, no passado, já ganhou cinco autarquias do país que,
entretanto, voltou a perde-las. O MDM, que surgiu como fragmento da Renamo, actualmente
preside duas autarquias, Quelimane (Zambézia) e Beira (Sofala) ambos no centro
do país.
Esta alternância faz
com que as eleições autárquicas sejam, tal como sublinha o académico Luís de
Brito, um verdadeiro “laboratório de
democracia” em Moçambique. Onde diferentes forças políticas podem se
digladiar e perder o comando dos Municípios conforme a vontade popular.
Eleições
gerais são uma estagnação política
Contrariamente ao
que acontece nas eleições autárquicas, as gerais, em Moçambique, parecem mais
uma forma de carimbar a perpetuação do “regime libertador” do que propriamente
uma maneira de garantir a legitimidade de governação através do voto popular.
É que mesmo depois
de, em 1990, através da Constituição da República, ter se introduzido o sistema
político multipartidário permitindo a criação de outros partidos políticos com
vista a competirem pelo poder, nenhuma força da oposição conseguiu superar oficialmente
a Frelimo na mesa de voto. Portanto, apesar desde multipartidarismo, em termos
de alternância política no xadrez da governação do país nada aconteceu e a
marca da democracia torna-se cada vez mais imaginária.
E durante todo esse
período, a Frelimo mais do que ganhar as eleições presidenciais na primeira
volta, “sempre teve uma maioria absoluta no Parlamento” o que estabelece uma
certa continuidade na governação desde o período monopartidário até hoje.
Razões
da alternância
Para o académico
moçambicano, Luís de Brito, do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE)
a mudança de governos municipais resulta também do facto de nessas eleições
haver uma participação considerável de eleitores. (…) Sente-se de alguma maneira que onde há maior competição entre partidos
há maior participação também. Significa que há uma maior vontade de votar por
parte das pessoas quando há uma certa incerteza sobre os resultados das
eleições.”
O académico alerta,
entretanto, para o facto de “alternância”
embora seja importante, não ser um “critério
absoluto de democratização.” Pois “um
sistema político onde não há nenhuma perspectiva de mudança do grupo no poder
isso põe problemas.”
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