“(…) a
sociedade também não tem sido capaz de fazer pressão suficiente para que haja
transformações necessárias no sentido de melhorar o ambiente político e
eleitoral no país.”
Estamos a menos de dois meses
para a realização de eleições autárquicas no país - marcadas para 20 de
Novembro. O clima político continua tenso. A maior força da oposição em
Moçambique, a Renamo, não participará da corrida eleitoral e assevera que não permitirá
a sua realização.
Recentemente, o secretário-geral deste partido e
deputado na Assembleia da República, Manuel Bissopo, muito conhecido pela sua
postura intempestiva e declarações belicistas, afirmou que, para impedir a
realização das eleições, a Renamo poderá recorrer à violência, se assim for
necessário. Esta afirmação, apesar de contrariar o discurso que vinha sendo
divulgado pelos líderes do partido, merece e deve ser levado em conta.
Aliás, é preciso não esquecer que a Renamo, que
vem desde ano passado condicionando a sua participação nas eleições à revisão da
legislação eleitoral, por uma questão óbvia, nunca deixou claro como iria
impedir a realização das eleições, o que torna a declaração de Bissopo muito
pertinente.
A líder da Renamo ao nível do Parlamento, Maria
Angelina Enoque, no dia 15 de Agosto, tentou passar a ideia de que a Renamo
conta(rá) com apoio popular para impedir a realização dos pleitos. “Não vamos participar das eleições com a
actual lei. Nós não vamos sabotar as eleições, os próprios eleitores, os
moçambicanos, não vão eleger. Não é a Renamo que vai fazer. A Renamo não está a
fazer por si própria mas é pelos moçambicanos e são esses moçambicanos que não
vão participar,” disse.
Por seu turno, o presidente da Renamo, Afonso
Dhlakama, sempre reiterou que o seu partido não quer mais retornar a guerra, apesar
de se manterem os diferendos com a Governo/Frelimo.
E com vista a ultrapassar essas diferenças, o Governo/
Frelimo, e a Renamo estão a quase quatro meses sentado à mesa de negociação a
discutir a possibilidade de rever a lei eleitoral, mas ainda não houve consenso
sobre a matéria. A negociação está encalhada, nem água vai nem água vem.
A citação que inicia este texto foi retirada de
um discurso do académico moçambicano, Luís de Brito, que comentava acerca da
tensa situação política de Moçambique, que nos últimos meses tem se
caracterizado por ameaças claras de retorno à guerra, mesmo que os seus
protagonistas afirmem não tratar-se de uma guerra.
O académico entende que o actual cenário do país
é de “quase guerra” para não dizer que estamos em uma “guerra embrionária.” Na zona
centro do país as pessoas não circulam à vontade. O ar cheira à pólvora. Com aquela
frase Luís de Brito denuncia a ausência da voz da sociedade moçambicana nesse
diálogo entre as duas forças beligerantes.
É que na eventualidade de uma guerra civil, ou
não, a população será a principal vítima, entretanto, ela não se está a fazer
presente no debate que visa buscar solução para os problemas da nação.
A ausência dessa voz (da sociedade) por um lado
pode ser o denunciante da fragilidade do debate, mas também pode revelar a
nossa fraqueza como sociedade. E mais uma vez levanta-se a questão da
consciência da cidadania. Afinal quem deve pressionar as duas partes (Governo e
Renamo) a resolverem as suas diferenças somos nos cidadãos. Mas parece que
ainda estamos distantes dessa mentalidade que nos permite nos reconhecermos
como cidadãos com direitos e deveres, e, principalmente, cidadãos com poder.
Que o país está doente parece não haver dúvida,
mas a incerteza surge quanto à solução para essa doença. Não se vislumbra
nenhuma saída e enquanto não se apresentar nenhuma luz no fundo do túnel
continuaremos viver com o fantasma de uma guerra civil e pior que isso de mãos
cruzados.
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